terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ao Poeta Alberto Moura

                                        AO POETA ALBERTO DE MOURA

           Falar sobre o poeta Alberto de Moura, descrever-lhe o talento de um dos mais festejados cultores do nosso idioma, grande filósofo, vernaculista de escol, poeta sublime na arte de versejar, escultor exímio do verso alexandrino, com o qual esmerilhou belíssimos sonetos, entre todos, só um, apenas um, é bastante citá-lo: “A Tulipa  Vermelha”, não é tarefa fácil para um leigo em matéria de literatura.
          Alberto de Moura produziu o suficiente, não importa a quantidade de sua lavra poética, o que importa é a qualidade de tudo aquilo que ele, no cadinho da língua portuguesa, fez brotar, em quatorze versos alexandrinos, os mais esmerados.
          Alberto de Moura não é só um grande poeta, é ainda por cima, um desmedido etimólogo, vernaculista, filósofo e “dicionarista”, assim que dele se pode dizer, porque, ao ler uma crônica sua, há algum tempo, sobre o soneto “O Banho de Semiramis”, veio-me a ideia de que ela saiu fértil, pena, de forma repentina.
         Ao longo da sua vida laboriosa, no manejar da pena, em busca do verso rebuscado, e do aperfeiçoamento da língua portuguesa, mostrou-se sempre preocupado com aqueles que, de uma forma ou de outra, desprezam e maltratam o idioma que falam, sacrificando a gramática e se distanciando da maneira mais ou menos culta de escrever.
              Alberto de Moura foi para mim um exemplo a quem sou bastante grato, porque o pouco que sei devo-lhe as severas críticas a que era submetido, críticas estas benfazejas, que foram se amoldando no espírito de um principiante na língua “Em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho”.
              O poeta Alberto de Moura é um exemplo de vida a ser seguido, eu próprio tive a honra de privar da sua sincera amizade, porque ele não agradava pelo simples fato de agradar, quando lhe pedia alguma sugestão, fazia sem meandros, ia sempre fundo no assunto, doesse a quem doessem, pois, é aí que repousa o grande mérito da sua personalidade.
            Ao completar noventa anos, o poeta Alberto de Moura dedicou um magistral soneto à sua memorável longevidade, mesmo com esta idade toda, possui uma memória invejada, é detentor de uma lucidez nunca vista, capaz de alçar, desta forma, o voo na nave imensurável do século ou mais ainda, assim o queira Deus! O século, há muito, poeta, era o gigante, primo da eternidade, pois, o Grande General francês, aos pés das colossais pirâmides do Egito, disse: “Soldados, do alto destas pirâmides quarenta século vos completam!”. O outro francês não menos importante, Victor Hugo, disse: “O século é grande e forte”. Viver assim é um privilégio da Divina Providência, por isso é que o poeta Alberto de Moura disse: “Tenho sempre a alma aberta e a Deus agradecida porque me concedeu tão benfazejo fado”. Assim, pressagiou o destino.

Ipaumirim-CE, Julho de 2006.

Francisco Bezerra Lacerda
Professor e Advogado


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TROVAS



Enfunando a vela o vento,
O barco singra velos,
Como faz, no firmamento,
O mais soberbo albatroz.


Ao meu caloroso amor
Eu pedi um beijo cálido
Com o mais fremente ardor,
Veio frio e muito pálido.


Carrego dentro do peito
Uma vil desilusão
Que bate forte e sem jeito
Ferindo-me o coração.


Às vezes fico a pensar
Em outra vida falaz,
Mas não posso acreditar
Que ressurja tão fugaz.


Atormentado eu padeço,
Porque busco, no infinito
Meu existir, o começo
Mas em vão se vai meu grito.


Cansado, velho, senil,
E sem força pra viver,
Carrego n’alma febril,
O meu triste padecer.


No caminho da existência
Só tive desilusão
Muita mágoa e turbulência
Pro meu pobre coração.


Quando minha alma partir,
Deixando meu corpo inerte,
Não quero mais o porvir
De tão perversa existência.


Visitei um cemitério
E ali vi o meu destino
Feito um imenso mistério
Pra quem é tão pequenino!
Como é grande a dor do mundo,
E com ela envelhecer.
Só quem sabe responder
É o olhar de um moribundo!


Quando a paz universal
À minha porta bater
Com sua mão divinal, terá fim o meu sofrer.


Ipaumirim-CE, Setembro de 2005


Prof. Bezerra Lacerda


Professor e Advogado

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hino de Ipaumirim

O hino de Ipaumirim, composição de autoria do poeta Alberto Alexandre Viana de Moura (In Memorian), foi composto no ano de 2005, mas somente no dia 25 de novembro de 2009, foi oficilizado, embora o mesmo já fosse bastante conhecido pelos músicos locais, tocado pela Banda Municipal e cantado pelo coral do município e em algumas solenidades oficiais e acontecimentos cívicos.

Em 25 de novembro de 2009, pelo Projeto de Lei nº 005/2009 de autoria da Vereadora Maria Socorro Olímpio Lucena de Moura, foi dado entrada na Câmara Municipal e aprovado pela unanimidade de seus pares. Ainda em 25/11/2009, quando se aproximavam os festejos das comemorações do quinquagésimo sexto ano de emancipação política do município pela Lei nº 119/2009 do executivo, foi sancionado na gestão do atual prefeito Dr. José Geraldo dos Santos e da presidente da Câmara Municipal, Vereadora Maria Flaucineide Vieira Chagas.

A bela melodia do Hino do Município é de autoria do maestro Rivaldo Santana (In Memorian). A partir de então, o hino foi declarado oficial.

HINO DE IPAUMIRIM

Letra: Alberto Alexandre Viana de Moura
Música: Rivaldo Santana


Salve, alegre cidade querida
Que pompeias em nosso rincão,
Tens a fé, tens amor, tens a vida
No fervor do teu povo Cristão.

Sob os raios de sol fecundante
Germinando em terreno feraz,
Que o teu belo pendão se levante
como insígnia de amor e de paz.

(Estribilho)

Junto a antiga e pequena lagoa
Ipaumirim tu nasceste a sorrir,
E esse lago de linfa tão boa
Deu-te o nome e ditou teu porvir.

Os invernos na sua clemência
Dão-te parte do seu cabedal.
Pelos rios, Serrote e Pendência
És banhada na quadra hibernal.

Município que orgulha tua gente
Pelo teu conhecido valor,
No passado e também no presente
És estrênuo e batalhador.

O progresso da terra perdura
E engrandece o nosso país,
No comércio e na agricultura,
O teu povo trabalha feliz.

És luzeiro de um sol sempre novo
Que te faz florescente e loução
Onde quer que esteja o teu povo,
Tem teu nome no seu coração.

GLOSSÁRIO

POMPEIAS:
brilhar, expor brilhantemente
RINCÃO:
local bem protegido rodeado de mata ou rios
FECUNDANTE:
que produz, frutífero, abundante
GERMINANDO:
brotando, desenvolvendo a semente
FERAZ:
de grande força
PENDÃO:
bandeira, estandarte
INSÍGNIA:
sinal distintivo de uma função de dignidade, de nobreza
LINFA:
água transparente, incolor, limpa
PORVIR:
futuro
CABEDAL:
conjunto dos bens que forma o patrimônio, riqueza
HIBERNAL:
relativo ao inverno, própio do inverno
ESTRÊNUO:
ativo, corajoso, forte, firme
PERDURA:
durar muito, permanecer
LUZEIRO
: farol, astro, estrela
FLORESCENTE:
viçoso, produz flores
LOUÇÃO:
elegante, gentil, gracioso.


sábado, 7 de novembro de 2009



A PRISÃO DUM VIOLÃO

Em certa noite de lua

Saí com meu violão,

A distrair, pela rua,

As mágoas do coração.


E já cantando, à carícia

Do maravilhoso luar,

Um soldado de polícia

Me proibiu de cantar.


Com petulância e ousadia

Tentou levar-me à prisão;

Mas vendo que eu não iria,

Levou preso o violão.


Vendo-me desacatado

Achei que seria o fim...

Fui então ao Delegado

E a ele falei assim:


Venho a Vossa Senhoria

Contar o que aconteceu:

O violão que eu conduzia

Um seu soldado o prendeu.


E como sou seresteiro

Peço que mande soltar

Aquele meu companheiro

Das serestas ao luar.


Sem a companhia dele

Não sou feliz na canção,

Pois só sei cantar com ele

Roçando meu coração.

Sua voz é uma galanteio

De sons e ternuras mil,

E faz palpitar o seio

De muita moça gentil.


Assim, senhor Delegado,

Cito algumas das canções

Que por ele acompanhado

Enterneço os corações:


É “O Lírio da Campina”,

“Vela Branca sobre o Mar”,

“A Casinha Pequenina”,

“Boneca” e “Ontem ao Luar”.


“Saudade de Minha Terra”,

“O Silêncio do cantor”,

“A Casa Branca da Serra”

e o “Gondoleiro do Amor”.


“Lua Branca”, “Serenata”,

“Neusa” e “Rosa do Sertão”,

“Perdão Emília”, “Mulata”

E “saudades de Matão”.


E a jovem risonha e bela,

Ouvindo as árias de amor,

Se debruça na janela

Para ver o seu cantor.


Vendo o senhor Delegado

Que eu tinha justa razão,

Mandou logo que o soldado

Me entregasse o violão.


E o tal soldado atrevido,

Que nada pôde alegar,

Havia de ser punido

Para nunca mais errar.


Saí deveras surpreso

Com a estranha punição:

-O soldado ficou preso

No lugar do violão.


Ipaumirim-CE,1988

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


MÃOS


Mãos puras de vestal, fidalgas, pequeninas,

Que trescalais o odor dos lírios e das rosas,

Vós tendes a maciez das sedas veludosas

E a frescura sutil da brisa e das Campinas.


Incomparáveis mãos angelicais, divinas,

Da lactescente cor das brancas nebulosas,

Sede, pois, mais gentis e sempre generosas,

Como as piedosas mãos das santas heroínas!


Mãos feitas para o altar dos ofícios de Elêusis,

Ao pé do qual, outrora, iam povos pagãos

Oscular e servir os seus amados deuses...


Mas, a esse culto fiel, e em devaneios parvos

Eu sinto, ó níveas mãos, idolatradas mãos,

A mágoa imensa e atroz de não poder beijar-vos!



O PEDIDO DE MEU PAI

(“Alberto, deixa de fazer tanto verso!”)

Gente da Gente, pág.468

Sob o austero do domínio paterno

Vivi sempre a mostrar que seria bom filho:

O exemplo de meu pai é o caminho que trilho

E a cujo honrado nome me prosterno.


Conferindo-me a Musa o dom rico e superno

Dei largas ao poetar, sem pretensão nem brilho.

Com o modesto instrumento orfeico, que dedilho,

Tenho muito de antigo e um tanto de moderno.


E assim, bom filho e poeta, ai destino jungido,

(Quer venha este, quer se mostre adverso)

Prossigo em versejar, discreto e comedido...


Só nisto – usando embora estilo ingênuo e terso –

Desatendo a meu pai, com faltar-lhe ao pedido,

Pois jamais consegui “deixar de fazer verso”!


terça-feira, 3 de novembro de 2009


O CORVO

Alberto de Moura


Semelhante ao condor, por enormes alturas

Passa o corvo sereno, equilibrado e airoso,

Vislumbrando do espaço imenso e luminoso

O bulício infernal das pequenas criaturas.


Se descobre, porém, cá no solo escabroso,

Corpos em podridão em cavernas escuras,

Ei-lo que ao sentir essas carnes impuras

Vem, com sofreguidão, devorá-las ansioso.


E saciando o apetite ardente e depravado,

Se fica a meditar horripilante e imundo,

Taciturno e sombrio, infecto e acabrunhado.


O corvo nisto encerra um mistério profundo…

_ Quem sabe se ele assim: mudo, feio, enojado,

Não repugna e detesta as misérias do mundo?!

Cedro-CE, 1939.



CIDADE DE CEDRO


Cedro! Minha risonha e lírica cidade,

Onde vivi, feliz, belos dias outrora,

O teu nome, a cantar, numa solfa sonora,

Intermitentemente o coração invade!


Mas, distante de ti, sem te gozar, quem há de

Suportar uma ausência infinda que devora?

Eu sinto que me falta o teu calor, embora

Viva sempre a rever-te através da saudade.


Revejo a Casa do Alto, o teu mercado, a feira,

Os passeios da praça, a banda do Silveira,

As chegadas dos trens, o povo na estação...


Revejo a Prefeitura, as fábricas, a igreja

E a época animada, alegre e benfazeja

Em que se realizava a Festa de SÃO JOÃO!


A TULIPA VERMELHA

(De um motivo do livro chinês “Flauta de Jade”)


A tarde era de inverno. Indiferentemente.

Tu deixaste cair na fria e longa estrada

A tulipa vermelha – a flor viva encarnada

Que eu te dera, provando o meu amor ardente.

Aquele gesto teu feriu-me, ó minha amada!

E desde então jamais se apagou de minha mente.

Quedei-me em contemplar a tulipa rubente,

Muito triste por vê-la ao solo abandonada.

Profunda e acerba dor senti dentro do meu peito

Quando via orlar, como um sonho desfeito,

Naquela estrada fria, a rubicunda flor...

Então, numa revolta irreprimível, franca,

Apanhei-a ao chão... Tinha ficado branca!

E nevara também por sobre o nosso amor...


O SANTO DE ASSIS

São Francisco de Assis – o meigo pregador

Das aves – foi de Cristo apóstolo perfeito:

Toda vida o serviu com profundo respeito

Consagrando-lhe sempre um verdadeiro amor.

Amava seus irmãos com desmedido ardor

E nunca transgrediu o divino preceito.

De duas santas ações inda não satisfeito,

Tomou mais para si as chagas do Senhor...

Com seu grande poder de Santo taumaturgo,

Por onde quer que andou, na floresta ou no burgo,

Fez milagres reais, em místicos fervores.

Um dia abraçou-lhe a um rude pé-de-espinhos,

Mas no instante em que o fez, os acúleos daninhos

Tinham-se transformado em veludíneas flores!


IPAUMIRIM

Alberto de Moura

Numa agreste região que sempre se transmuda

Em gleba com aparência amena de jardim,
Sem nenhuma porção ressequida ou desnuda,
Há uma cidade nova e alegre – Ipaumirim.

Seu povo altivo e bom não nega a sua ajuda
A quem dela precise. E, sobre ser assim,
Guarda, reconhecido, a lembrança de Arruda,
Que lhe foi dedicado e estrênuo paladim.

É a terra onde se vê a paixão do labor,
Apresentando em tudo expressivas vantagens
Provindas de trabalho honrado e promissor

E para lhe nutrir o espírito cristão,
Há na Pedra, acenando às votivas ramagens
A ermida oracular de São Sebastião.

em 1981.



Um acróstico para Socorro Olímpio