terça-feira, 3 de novembro de 2009


O CORVO

Alberto de Moura


Semelhante ao condor, por enormes alturas

Passa o corvo sereno, equilibrado e airoso,

Vislumbrando do espaço imenso e luminoso

O bulício infernal das pequenas criaturas.


Se descobre, porém, cá no solo escabroso,

Corpos em podridão em cavernas escuras,

Ei-lo que ao sentir essas carnes impuras

Vem, com sofreguidão, devorá-las ansioso.


E saciando o apetite ardente e depravado,

Se fica a meditar horripilante e imundo,

Taciturno e sombrio, infecto e acabrunhado.


O corvo nisto encerra um mistério profundo…

_ Quem sabe se ele assim: mudo, feio, enojado,

Não repugna e detesta as misérias do mundo?!

Cedro-CE, 1939.

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