O CORVO
Alberto de Moura
Semelhante ao condor, por enormes alturas
Passa o corvo sereno, equilibrado e airoso,
Vislumbrando do espaço imenso e luminoso
O bulício infernal das pequenas criaturas.
Se descobre, porém, cá no solo escabroso,
Corpos em podridão em cavernas escuras,
Ei-lo que ao sentir essas carnes impuras
Vem, com sofreguidão, devorá-las ansioso.
E saciando o apetite ardente e depravado,
Se fica a meditar horripilante e imundo,
Taciturno e sombrio, infecto e acabrunhado.
O corvo nisto encerra um mistério profundo…
_ Quem sabe se ele assim: mudo, feio, enojado,
Não repugna e detesta as misérias do mundo?!
Cedro-CE, 1939.
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