sábado, 7 de novembro de 2009

A PRISÃO DUM VIOLÃO

Em certa noite de lua

Saí com meu violão,

A distrair, pela rua,

As mágoas do coração.


E já cantando, à carícia

Do maravilhoso luar,

Um soldado de polícia

Me proibiu de cantar.


Com petulância e ousadia

Tentou levar-me à prisão;

Mas vendo que eu não iria,

Levou preso o violão.


Vendo-me desacatado

Achei que seria o fim...

Fui então ao Delegado

E a ele falei assim:


Venho a Vossa Senhoria

Contar o que aconteceu:

O violão que eu conduzia

Um seu soldado o prendeu.


E como sou seresteiro

Peço que mande soltar

Aquele meu companheiro

Das serestas ao luar.


Sem a companhia dele

Não sou feliz na canção,

Pois só sei cantar com ele

Roçando meu coração.

Sua voz é uma galanteio

De sons e ternuras mil,

E faz palpitar o seio

De muita moça gentil.


Assim, senhor Delegado,

Cito algumas das canções

Que por ele acompanhado

Enterneço os corações:


É “O Lírio da Campina”,

“Vela Branca sobre o Mar”,

“A Casinha Pequenina”,

“Boneca” e “Ontem ao Luar”.


“Saudade de Minha Terra”,

“O Silêncio do cantor”,

“A Casa Branca da Serra”

e o “Gondoleiro do Amor”.


“Lua Branca”, “Serenata”,

“Neusa” e “Rosa do Sertão”,

“Perdão Emília”, “Mulata”

E “saudades de Matão”.


E a jovem risonha e bela,

Ouvindo as árias de amor,

Se debruça na janela

Para ver o seu cantor.


Vendo o senhor Delegado

Que eu tinha justa razão,

Mandou logo que o soldado

Me entregasse o violão.


E o tal soldado atrevido,

Que nada pôde alegar,

Havia de ser punido

Para nunca mais errar.


Saí deveras surpreso

Com a estranha punição:

-O soldado ficou preso

No lugar do violão.


Ipaumirim-CE,1988

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