A PRISÃO DUM VIOLÃO
Em certa noite de lua
Saí com meu violão,
A distrair, pela rua,
As mágoas do coração.
E já cantando, à carícia
Do maravilhoso luar,
Um soldado de polícia
Me proibiu de cantar.
Com petulância e ousadia
Tentou levar-me à prisão;
Mas vendo que eu não iria,
Levou preso o violão.
Vendo-me desacatado
Achei que seria o fim...
Fui então ao Delegado
E a ele falei assim:
Venho a Vossa Senhoria
Contar o que aconteceu:
O violão que eu conduzia
Um seu soldado o prendeu.
E como sou seresteiro
Peço que mande soltar
Aquele meu companheiro
Das serestas ao luar.
Sem a companhia dele
Não sou feliz na canção,
Pois só sei cantar com ele
Roçando meu coração.
Sua voz é uma galanteio
De sons e ternuras mil,
E faz palpitar o seio
De muita moça gentil.
Assim, senhor Delegado,
Cito algumas das canções
Que por ele acompanhado
Enterneço os corações:
É “O Lírio da Campina”,
“Vela Branca sobre o Mar”,
“A Casinha Pequenina”,
“Boneca” e “Ontem ao Luar”.
“Saudade de Minha Terra”,
“O Silêncio do cantor”,
“A Casa Branca da Serra”
e o “Gondoleiro do Amor”.
“Lua Branca”, “Serenata”,
“Neusa” e “Rosa do Sertão”,
“Perdão Emília”, “Mulata”
E “saudades de Matão”.
E a jovem risonha e bela,
Ouvindo as árias de amor,
Se debruça na janela
Para ver o seu cantor.
Vendo o senhor Delegado
Que eu tinha justa razão,
Mandou logo que o soldado
Me entregasse o violão.
E o tal soldado atrevido,
Que nada pôde alegar,
Havia de ser punido
Para nunca mais errar.
Saí deveras surpreso
Com a estranha punição:
-O soldado ficou preso
No lugar do violão.
Ipaumirim-CE,1988
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